MOVIMENTO CONTRA A DESINFORMAÇÃO
16.04.2023
| Avanços na ciência e direitos |
A despeito de notícias falsas, como as pregadas pelo movimento antivacina, mães e pais precisam vacinar seus filhos. Cenário também atinge familiares de crianças com hemofilia
Por Daniele Amorim
“Doutora, já tenho um filho com hemofilia. Não quero que ele corra o risco de ter autismo causado pela vacina”, disse uma mãe para a hematologista pediátrica Dra. Christiane Maria Silva Pinto, do Serviço de Coagulopatias Hereditárias da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Diariamente, ela encontra pais e mães de crianças que são tratadas no local e o assunto sobre vacinação costuma aparecer nas conversas.
“Como atendemos essas crianças em razão da profilaxia, a maioria dos serviços checa o cartão de vacinação. Fazemos questão que elas estejam imunizadas”, explica. Para os primeiros anos de idade, o calendário vacinal estabelecido pelo Ministério da Saúde deter- mina que o grupo de até nove anos tome 25 doses de vacina.
O medo da mãe no caso relatado pode ser explicado por um fenômeno recente que circula na internet: o crescimento da divulgação de notícias falsas de saúde. De acordo com o 5º Relatório da Segurança Digital no Brasil, o levantamento mais recente feito pelo labora- tório especializado em segurança digital, aproximadamente dois milhões de fake news sobre saúde circularam na internet brasileira entre agosto e setembro de 2018. Além disso, sete em cada 10 brasileiros acreditam em notícias falsas sobre vacinas, de acordo com uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). “Muitas doenças que acreditávamos estarem erradicadas estão de volta porque as pessoas acreditavam que vacina era um risco. Não é. O risco é ficar sem vacinar”, alerta a hematologista Christiane.
Outras motivações para que a população tenha receio da vacinação são pontuadas pelo infectologista pediátrico do Hospital Municipal da Criança e do Adolescente (HMCA), de Guarulhos, Dr. José Antônio Koury Alves Júnior. Uma delas é o surgimento do movimento antivacina, que prega a crença incorreta de que não há necessidade da imunização de doenças já erradicadas e a ideia de que a dose da vacina fará o paciente contrair a patologia combatida. Sobre o equívoco em questão, Alves Júnior desmistifica: “Esse cenário faz as pessoas terem receio. Esse grupo desconhece que até mesmo uma dose única de dipirona pode deflagrar uma anemia aplástica”, pontua.
Em 2019, por exemplo, o País voltou a registrar casos de sarampo mesmo depois de receber, em 2016, o certificado de erradicação da doença pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No estado de São Paulo, onde houve o maior índice da doença, foram diagnosticados
4.374 casos em 161 municípios. Para combater a expansão da doença, a cidade de São Paulo (a maior região afetada no estado) estabeleceu a meta de vacinar três milhões de pessoas até 16 de agosto. Entretanto, até duas semanas antes do encerramento da campanha, apenas 6% havia aderido. Para que a prefeitura atingisse tais índices, a campanha, que inicialmente seria encerrada no começo do segundo semestre de 2019, foi estendida até o final daquele ano.
E se existe desinformação sendo espalhada por pessoas leigas, afetando a população em geral, há um agravante para as pessoas com hemofilia. No Ser viço de Coagulopatias da Unifesp, onde a Dr. Christiane Maria atende, é comum que os pacientes lá tratados precisem de uma comprovação do serviço para que sejam atendi- dos nas Unidades Básicas de Saúde. “Muitas vezes, quem está na UBS não sabe o que é hemofilia e só aceita dar a vacina depois do aval de um serviço especializado”, explica. A justificativa para esse receio dos profissionais de saúde vem do fato de que, como a hemofilia é uma patologia do sangue, fica o temor de que a vacinação possa dar algum tipo de reação.
O perigo de não vacinar crianças com hemofilia, alerta o infectologista pediátrico José Antônio Koury Alves Júnior, é pelo fato do paciente com hemofilia estar constantemente em ambiente hospitalar para fazer a infusão ou acompanhamento multidisciplinar. Por isso, há uma maior exposição a diferentes vírus e bactérias presentes nas pessoas que circulam pelo local “Toda criança que não está vacinada se torna indefesa. É como uma roleta. Não vou arriscar que uma criança muito pequena desenvolva uma doença”, reitera.
A recomendação do Ministério da Saúde reforça essa preocupação da vacinação em crianças com hemofilia. Segundo a hematologista pediátrica Dra. Christiane Maria, não há contraindicação ao grupo e todas as doses que estão no calendário vacinal podem e devem ser fornecidas para o público em geral, respeitando a faixa etária de quem as toma.
O único cuidado é a forma de aplicação em pessoas com hemofilia. Por conta da possibilidade do sangramento acontecer após o trauma causado pela agulha, a ideia é fazer uma compressa de gelo três minutos antes e depois da aplicação. E não há problema em fazer a profilaxia no mesmo dia ou no anterior da imunização. Por fim, a hematologista pediátrica dá uma dica para que os machucados sejam menores: “A ideia é acalmar a criança para que não haja maio- res hematomas”. Ou seja, não dá para ficar sem a vacina.
QUAIS SÃO AS VACINAS QUE DEVEM SER TOMADAS PELAS CRIANÇAS?
Ao nascer
– BCG (previne as formas graves de tuberculose, principalmente miliar e meníngea) – dose única
– Hepatite B
2 meses
– Penta (previne difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e infecções causadas pela Haemophilus influenzae B) – 1 dose
– Vacina poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) (VIP) (previne a poliomielite) – 1 dose
– Pneumocócica 10 valente (conjugada) (previne a pneu- monia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo pneumococo) – 1 dose
– Rotavírus humano (previne diarreia por rotavírus)- 1 dose
3 meses
– Meningocócica C (conjugada) (previne doença invasiva causada pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C)- 1 dose
4 meses
– Penta (previne difteria, tétano, coquelu- che, hepatite B e infecções causadas pela Haemophilus influenzae B)- 2 doses
– Vacina poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) (VIP) (previne a poliomielite) – 2 doses
– Pneumocócica 10 valente (conjugada) (previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo pneumo- coco) – 2 doses
– Rotavírus humano (previne diarreia por rotavírus) – 2 doses
5 meses
– Meningocócica C (conjugada) (previne doença invasiva causada pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – 2 doses
6 meses
– Penta (previne difteria, tétano, coquelu- che, hepatite B e infecções causadas pela Haemophilus influenzae B) – 3 doses
– Vacina poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) (VIP) (previne poliomielite) – 3 doses
9 meses
– Febre amarela — uma dose (previne a febre amarela)
12 meses
– Tríplice viral (previne sarampo, caxumba e rubéola) – 1 dose
– Pneumocócica 10 valente (conjugada) (previne pneumonia, otite, meningite e outras doenças causadas pelo pneu- mococo) – reforço
– Meningocócica C (conjugada) (pre- vine doença invasiva causada pela Neisseria meningitidis do sorogrupo C) – reforço
15 meses
– DTP (previne difteria, tétano e coque- luche) – 1º reforço
Vacina poliomielite 1 e 3 (atenuada) (VOP) (previne poliomielite) – 1º reforço
– Hepatite A – 1 dose
– Tetraviral (previne sarampo, rubéola, caxumba e varicela/catapora) – 1 dose
4 anos
– DTP (previne difteria, tétano e coque- luche) – 2º reforço
– Vacina poliomielite 1 e 3 (atenuada) (VOP) (previne poliomielite) – 2º reforço
– Varicela atenuada (previne varicela/ catapora) – 1 dose
Fonte: Ministério da Saúde