Especialistas ressaltam a importância das vacinas para a saúde, explicando os métodos de produção e etapas pelas quais elas passam até chegar à população
Por Leila Vieira

Desde o ano passado, o mundo entrou em uma corrida sem precedentes em busca de uma vacina para imunizar a população contra a Covid-19 que mobilizou pesquisadores, laboratórios e governos pelo mundo. Mas você sabia que para uma vacina chegar precisa atravessar rigorosas etapas e ser testada em milhares de pessoas até estar disponível no posto de saúde da sua cidade? A Fator Vida mostra a seguir a importância das vacinas em nossas vidas, os métodos e suas etapas para produção, além de apontar as razões para confiarmos na segurança e sua eficácia contra a Covid-19.
As vacinas podem ser virais (quando combatem vírus) ou bacterianas (quando combatem bactérias) e nos acompanham nos primeiros meses de vida até à velhice, garantindo nossa proteção e também de toda a sociedade. As vacinas livraram a humanidade, por exemplo, da varíola, considerada a primeira doença erradicada na história e um problema de saúde pública por séculos. Da primeira vacina que se tem conhecimento no Ocidente, em 1796, até chegarmos às vacinas atuais contra a Covid-19, elas seguem protegendo a população de doenças como sarampo, caxumba, rubéola, febre meningite, amarela, pneumonias, dentre outras.
Graças à ciência, as vacinas disponíveis hoje são seguras, confiáveis e eficazes. Elas são produzidas por laboratórios brasileiros, internacionais ou por institutos especializados que estão ligados ao poder público como o Instituto Butantan (do governo do Estado de São Paulo) ou a Bio-Manguinhos (do governo federal). As vacinas são uma alternativa mais sustentável para os sistemas de saúde.
Um estudo publicado em 2016 por pesquisadores da Universidade John Hopkins, nos Estados Unidos, mostrou que a economia obtida com programas de vacinação em massa, quando comparada com os custos de medicalização caso as vacinas não fossem aplicadas, chega a 586 bilhões de dólares. A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, afirmou em artigo publicado em 2019, que as evidências apontam que nas últimas cinco décadas a vacinação foi responsável por “salvar mais vidas do que qualquer outro produto ou procedimento médico.”
Décadas de pesquisas
Uma vacina pode demorar anos, ou mesmo décadas, para ser desenvolvida. Mas, em dezembro de 2020, apenas um ano depois dos primeiros casos confirmados de Covid-19 no mundo, diversas vacinas, muitas em fase final (entenda melhor as fases pelas quais as vacinas passam nas próximas páginas) se apresentaram para ajudar a combater a pandemia. Por isso, um dos questionamentos de algumas pessoas é pelo fato de as vacinas contra a Covid-19 terem sido desenvolvidas muito rapidamente. Isso quando, maliciosamente, algumas fake news são disseminadas nas redes sociais com o intuito de trazer desinformação às pessoas.
A vacina da caxumba, por exemplo, que foi criada e desenvolvida em1963, levou quatro anos para ficar pronta. Já uma vacina contra a dengue está em desenvolvimento há mais de 10 anos e há mais de três décadas pesquisas buscam desenvolver uma vacina para o HIV. Já sobre o coronavírus, pesquisadores no mundo têm trabalhado no desenvolvimento de vacinas há pelo menos 15 anos.
No começo dos anos 2000, houve mais de um surto de doenças provocadas por outros tipos de coronavírus na Asia e Oriente Médio e, desde esta época, os laboratórios pesquisam sobre os coronavírus. Ou seja, as vacinas que foram liberadas recentemente para proteger a população contra a Covid-19 são o resultado de mais de uma década de pesquisas.
“Estudos e investigações sobre outros tipos de coronavírus possibilitaram avanços rápidos na busca por uma vacina para SARS-CoV-2, que é o causador da atual pandemia de Covid-19. Assim, em menos de um ano após a identificação desse agente causador, o licenciamento de vacinas eficazes e seguras contra a Covid-19 já é uma realidade”, ressalta o médico infectologista e membro do Comité Técnico da FBH, Dr. Dimas Carnaúba Junior.
Hemofilia e a vacina contra a Covid-19
De acordo com a Federação Mundial de Hemofilia (WFH, na sigla em inglês), as pessoas com distúrbios hemorrágicos não têm maior risco de contrair Covid-19 ou desenvolver uma forma grave da doença e que não há contraindicações específicas à vacinação relacionadas a complicações da hemofilia e outros distúrbios hemorrágicos ou suas terapias. É mesma posição do Ministério da Saúde.
“As pessoas com coagulopatias hereditárias, que realizam corretamente a profilaxia e mantêm controlado o tratamento com a aplicação dos fatores, têm um sistema imunológico competente e não há diferença daquele indivíduo que vive sem o distúrbio”, afirma o hematologista responsável pelo ambulatório de coagulopatias do Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), Dr. Luiz Ivando Pires.
O Ministério da Saúde divulgou, em janeiro deste ano, uma nota técnica com os procedimentos e cuidados para a administração da vacina nos pacientes. A nota está disponível no site da FBH. Uma das recomendações é para que a vacina contra a Covid-19 seja administrada via intramuscular com a agulha de menor calibre disponível. “Orientamos ainda nossos pacientes a solicitar ao aplicador que a vacina seja feita por meio da técnica em Z, que consiste ao aplicador fazer com que a própria musculatura solte o músculo e comprima o local da vacina”, afirma o Dr. Luiz.
A FBH ressalta que, ainda que as pessoas com hemofilia e outras coagulopatias hereditárias sejam vacinadas contra a Covid-19 em 2021, será preciso seguir com o uso de máscaras, higienização das mãos com álcool em gel e distanciamento físico até que se tenha, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 60% a 70% da população brasileira vacinada e o conjunto imunizado, o que barraria a circulação do vírus e daria um fim à pandemia.
Saiba como são produzidas as vacinas
O processo de pesquisa e desenvolvimento de uma nova vacina passam por rigorosas fases de estudos clínicos até ser disponibilizada para a população.
A primeira fase corresponde ao primeiro estudo a ser realizado em seres humanos e tem por objetivo principal demonstrar a segurança da vacina.
A segunda fase tem por objetivo estabelecer a sua imunogenicidade, a capacidade que uma vacina tem para induzir o sistema imunológico a produzir anticorpos.
Na segunda fase, são realizados os testes pré-clínicos, que têm por objetivo demonstrar a segurança e o potencial imunogênico da vacina.
A terceira fase é a última antes da obtenção do registro sanitário e tem por objetivo demonstrar a sua eficácia.
Só após a finalização do estudo desta terceira fase e obtenção do registro sanitário é que a nova vacina poderá ser disponibilizada para a população.
Fonte: Instituto Butantan
Os diferentes métodos de produção de uma vacina
Vírus morto ou atenuado: possuem a presença do agente infeccioso inativado, ou seja, não conseguem se replicar dentro do organismo. Essa é a tecnologia utilizada na produção da vacina CoronaVac.
Vacinas de vetor viral ou adenovírus: utilizam um vírus seguro para desencadear uma resposta imunológica sem causar a doença. A vacina da Oxford-AstraZeneca usa essa tecnologia.
Vacinas gênicas: técnica mais recente e conhecida como vacina de DNA ou de RNA, usa fragmentos de material genético produzidos em laboratório contendo as instruções para a replicação de um antígeno imunizante no organismo humano.
Vacinas de subunidades virais ou proteicas: apresentam a proteína do agente causador da doença, mas nenhum material genético.
Você sabia? A eficácia de uma vacina pode ser definida como o percentual de redução da incidência da doença entre vacinados quando comparado aos não vacinados. As vacinas para a Covid-19 passaram por testes rigorosos e várias etapas para garantir que sejam seguras e eficazes.
Fonte: Dr. Dimas Carnaúba Junior, médico infectologista e membro do Comité Técnico da FBH