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Tratamento: Cateter: quando é indicado usar?

Médico e enfermeira explicam os riscos e cuidados que as pessoas com hemofilia precisam ter ao utilizar o cateter para a aplicação do fator de coagulação

Por Leila Vieira


Realizar um tratamento médico prolongado que requer a punção venosa com frequência, como nos casos das pessoas com hemofilia que precisam receber os concentrados de fatores de coagulação (fator) por até três vezes por semana ou mais, costuma ser penoso para alguns pacientes e, sobretudo, para crianças cujas veias são de difícil acesso. Nessas situações, os cateteres são um grande aliado. Um dos dispositivos médicos mais utilizados na enfermagem e na medicina, eles podem ser utilizados para fazer a infusão do concentrado de fator de coagulação, via acesso venoso, diretamente na corrente sanguínea dos pacientes sem a necessidade de puncionar as veias sempre que o medicamento for necessário.

 

Mas, toda pessoa com hemofilia pode utilizar o cateter se quiser? Quais os casos em que é necessário utilizá-lo para garantir a aplicação do fator? Antes de tudo, é importante ressaltar que a utilização do dispositivo médico precisa ser autorizada pelo médico, enfermeiro e profissionais de saúde do Centro de Tratamento de Hemofilia. São eles os responsáveis em verificar a necessidade ou não da utilização dos cateteres e, para essa autorização, a equipe levará em conta aspectos relativos ao paciente e ao tratamento para fazer a recomendação do dispositivo.

 

O hematologista pediatra do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas da

Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP), Dr. Jorge David Aivazoglou Carneiro, explica que o caso mais frequente na utilização do cateter são os pacientes que possuem um acesso venoso de difícil localização e necessitam de tratamento profilático três vezes por semana ou de tratamento de indução de imunotolerância.  E, para evitar que as punções possam agredir invasivamente o indivíduo, a equipe decide pela colocação dos cateteres, pois proporcionará segurança e conforto ao tratamento.

 

“Normalmente as crianças muito pequenas, com menos de seis anos de idade, são os mais frequentes de se encaixarem nessas situações porque os vasos sanguíneos ainda são muito finos e frágeis”, afirma. Os enfermeiros são os profissionais de saúde que primeiro identificam essa dificuldade da punção nas pessoas com hemofilia, tanto na localização das veias quanto nas complicações que surgirem a partir do tratamento. Constatado isso, eles informam a situação ao hematologista que assiste à pessoa e, após isso, o médico conversa com os familiares para explicar os motivos da indicação da utilização do cateter no tratamento.

 

“Em nosso serviço, quando recomendamos o cateter, a família passa por atendimentos com o médico, a enfermeira, assistente social e psicóloga para checar a condição psicossocial, de higiene que a família reside e a questão do cuidado com o dispositivo. O objetivo é explicar para a família da criança o que significa e para que serve o cateter porque ela estranhará, em um primeiro momento, o dispositivo em seu corpo”, afirma o Dr. Carneiro.


Compreendendo os riscos


Para acessar a veia das crianças, são utilizados dois tipos de cateter: o interno e externo. O primeiro fica totalmente implantado dentro do corpo e são usados geralmente para tratamentos mais longos e que possam debilitar mais as veias do paciente. Essa opção apresenta menor risco de infecção quando comparado com o externo, que fica com uma parte para fora do corpo onde normalmente a seringa aplica o fator de coagulação. No geral, os perigos de um cateter sem o cuidado adequado são: sangramento, infecção, hospitalização, fratura (como é chamada a ruptura do cateter), mau funcionamento e até um quadro de trombose.

 

Apesar dos riscos menores no uso do cateter interno, a equipe precisa monitorar regularmente com a realização de uma radiografia para verificar se o dispositivo está funcionando corretamente, ver se está na posição certa e se não há risco de soltá-lo. “Esse acompanhamento é importante porque pode acontecer do cateter ficar obstruído, acotovelado em uma região anatômica entre a costela e a clavícula e também de se desconectar. Nesse último caso, pode ser necessária uma intervenção cirúrgica para localizar o dispositivo dentro do organismo e retira-lo”, diz o Dr. Carneiro.

 

A enfermeira do ambulatório do Hospital de Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (HCFMUSP), Eliane Sandoval, explica que no ambulatório do HC a equipe médica utiliza o cateter interno para aplicar a medicação nas crianças. Nos hemocentros, quando o cateter se torna uma opção avalizada pelo médico, os pacientes e suas famílias recebem um treinamento em que aprendem a manusear e limpar o cateter durante a infusão do concentrado de fator de coagulação.

 

Os protocolos de higiene são rígidos e a indicação é que antes e depois da aplicação do fator de coagulação os cateteres sejam lavados com soro para evitar a obstrução. “Primeiro ensinamos ao paciente ou sua família a aplicar clorexidina [antisséptico] na parte externa do cateter, em seguida, fazer a punção com a agulha específica para a infusão do soro que irá limpar as obstruções dos cateteres. O segundo passo é aspirá-los até que saia um pouco de sangue para demonstrar que o cateter está funcionando corretamente. Depois, aplicar o fator de coagulação. E, finalmente, limpar com soro novamente e colocar um curativo de proteção”, explica a enfermeira.


Acolhimento das Famílias


As famílias são muito importantes durante o processo de aceitação ao tratamento porque são elas que darão o suporte necessário ao paciente que usará o cateter. Por ser um corpo estranho no organismo, pode acontecer de o paciente não se adaptar ao dispositivo rapidamente e, na maioria das vezes, as crianças são as que mais têm dificuldade em aceitar o cateter.

 

As aplicações dos fatores de coagulação realizadas em casa em pessoas com cateter também devem seguir o mesmo esquema de higiene. Os familiares recebem material adequado e totalmente esterilizado para que seja mantida a rotina de cuidados. O objetivo é manter o funcionamento do cateter sem intercorrências e tentar reduzir a possibilidade de complicações que prejudiquem seu funcionamento. “Aqui no ambulatório, os parentes recebem todo o material estéril como máscaras, luvas, toucas e seringas que devem ser utilizados durante a aplicação do fator porque, por mais cuidado que se tenha, o cateter é uma fonte de infecção e ainda pode complicar com uma trombose. Nossos ensinamentos são tão cuidadosos que raramente tivemos crianças que tenha perdido o cateter por conta disso”, relata Eliane.

 

Outra situação que ocorre são algumas famílias solicitarem à equipe do hemocentro a utilização do cateter apenas por razões psicológicas – quando a criança ou a própria família se assustam por causa da periodicidade do tratamento e da punção venosa. Nesses casos, a abordagem indicada é a equipe de psicólogos do hemocentro conversar com a família e a criança para que possam, aos poucos, entender que a punção é parte do processo do tratamento e que não há indicação de uso de cateter se a criança possuir bom acesso venosos periférico. “Os cateteres devem ser retirados do paciente o quanto antes, assim que a criança apresentar melhor acesso venoso”, enfatiza.


Quais os tipos de cateter?


Antes de colocar o cateter, os profissionais precisam fazer uma escolha em relação ao tipo de dispositivo que irá trazer mais benefícios para o tratamento do paciente.

 

Cateter externo: rígido ou maleáveis, ficam com uma parte para fora do corpo. Na maioria das vezes, são implantados em veias periféricas do corpo do paciente.

 

Cateter Interno: é totalmente implantado por meio de um procedimento cirúrgico no organismo do paciente. Em geral, são colocados nas veias ao lado do tórax. Para que os medicamentos sejam aplicados é necessário fazer uma punção no reservatório com uma agulha específica para o procedimento.

 


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